por João Wilson Faustini
DEFINIÇÃO DE HINO
E uma poesia métrica de estrofes sucessivas com a mesma estrutura e esquema de rima, para serem cantadas com a mesma música. O autor e compositor tem que escrever de modo simples e claro, para que o hino possa ser geralmente cantado por uma congregação de analfabetos musicais. O hino precisa ser considerado como uma só entidade – palavra e música. Talvez não seja tão boa poesia, mas terá o seu próprio valor. O impacto da música é geralmente instantâneo, por apelar imediatamente ao nosso sentido irracional, mais na superfície[1].
W. Scott Westerman, assim classifica os elementos essenciais de um bom hino[2]:
1. A música deve ser de um caráter tal, que por si própria, sem palavras de sentimento religioso algum, possua valor duradouro e contribua para a realidade do culto de adoração:
a) a ritmo deve ser servo e não mestre.
b) A emoção deve ser genuína e sob firme controle.
c) A linha melódica não deve ser muito extensa.
d) As vozes da harmonia devem ser interessantes e bem escritas.
e) A associação de ideias não deve ser de natureza secular, pois seria um empecilho para culto.
f) O efeito geral deveria ser o de reverencia, dignidade, simplicidade e beleza.
2. O texto deve ser um que tenha valor por si só, sem a ajuda de música, como uma expressão sincera e reverente de amplas verdades religiosas, e que tenha mérito literário genuíno:
a) Tendo um conteúdo que mostre aspirações e conceitos espirituais fundamentais.
b) Tendo uma linguagem que não seja corriqueira ou chã.
3. A música e a texto devem possuir ume semelhança de atmosferas, definidas e consistentes, a mesma acentuação rítmica e a mesma intensidade de expressão, de tal forma que não cause nenhuma aparente distorção do pensamento do texto, em lugar algum:
a) Devem possuir semelhança de atmosfera geral. Se as estrofes do hino variam de atmosfera, a música deve ser adaptável, sem estorço, a essa mudança.
b) Devem possuir semelhança de atmosfera no aumento ou declínio da dinâmica e da intensidade de expressão.
c) Devem possuir semelhança no fraseado natural da expressão verbal. que deve condizer e
combinar com o fraseado inerente da música (Ex.: “O Semeador”, de O. Motta). S.L. 269.
d) A acentuação da música deve ser idêntica a das palavras.
4. O teor total do hino – PALAVRAS E MÚSICA – deve apontar pare Deus:
a) A terminologia descritiva do texto deve ser observada fielmente na concepção Cristã de Deus.
b) O texto deve evitar termos fantasiosos e irreais, e termos antropomórficos grosseiros.
c) O texto deve se submeter a música, em todos os aspectos, para se obter uma atmosfera de culto. A música deve ser uma oferta digna e adequada a Deus.
5. Um bom hino deve ser fácil de cantar, e de uso prático:
a) A sua música, mesmo que seja um pouco difícil, deve compensar os esforços de aprendizado da congregação, dando um bom e gratificante resultado.
b) Suas palavras devem expressar ideias que são relacionadas com a vida, mas que elevam a mente e o coração acima dos níveis comuns dos pensamentos corriqueiros.
c) O hino deve preencher uma ou mais das seguintes necessidades:
1) Ser uma expressão coletiva de culto. Ser uma expressão da congregação, que pela sua natureza, una os crentes.
2) Dar uma ideia da realidade de Deus na hist6ria e na vida quotidiana.
3) Afirmar a onipresença e o poder transcendental de Deus, ressaltando o cuidado imanente e pessoal de Deus.
4) Elevar espiritualmente, através do louvor ou oração a Deus.
5) Dar maior compreensão de Deus através de Cristo Jesus – seu amor, seu perdão, sua santidade, etc.
6) Reconhecer o Reino de Deus, a união da humanidade. O valor eterno da alma, a paternidade de Deus, a justiça entre os homens, etc.
Convém, também, observar alguns princípios para se poder julgar e selecionar músicas para hinos, escritos por Ray Francis Brown[3]:
A música deverá:
1. Expressar uma atmosfera correspondente as palavras a que está associada. A música deverá ressaltar aquilo que as palavras dizem.
2. Ter a mesma acentuação rítmica de seu texto.
3. Ser popular no sentido de ser accessível e bem aceita.
4. Ser simples e fácil para o povo cantar.
5. Ter uma boa estrutura ou forma, que demonstre equilíbrio.
6. Ter uma melodia que não dependa da harmonia para soar bem.
7. Ter uma melodia diatônica (tons e semitons) e uma harmonização basicamente diatônica.
8. Ter uma harmonia que tenha Interesse melódico em cada uma das quatro vozes, e que não use progressões de acordes primariamente para causar meros efeitos, sensacionalismo ou sentimentalismo.
9. Ter uma tessitura para canto congregacional, isto é, do Do 3 ao Re 4, ou quando muito do La 2 ao Mi 4.
10. Ter um ritmo fluente que expresse dignidade e força.
11. Não ter nem dar associações seculares.
12. Ser usada, se possível, com um só texto.
QUE É POESIA
“Poesia e pensamento colorido por forte emoção e expressa em métrica.” (J. S. Mié)
Poesia pode ser pensamento, filosofia e argumentação, mas sempre é emoção.
A emoção pode muitas vezes ser enfraquecida pela sua associação ao pensamento, mas o pensamento sempre e fortalecido pela emoção. Na realidade o pensamento sem emoção e morto. A emoção, entretanto, tem vida própria e não depende do pensamento.
“O poeta descreve o que sente. Sua experiência e emocional, por isso a poesia expressa melhor aquilo que sentimos profundamente, por exemplo, o amor, o heroísmo, a tristeza, etc. Cristianismo e experiência religiosa, portanto tem de ser poético.” (Dr. Theodore G. Soares).
O poeta esta constantemente deixando aquilo que e supérfluo, passageiro e aparente, pela busca do que e significativo, permanente e real. O maior dom do poeta e o da compreensão
“Poesia e a revelação do desconhecido através do comum, do eterno, através do transitório. É o grito apaixonado do coração na presença maravilhosa da vida. O poeta e um habitante de dois mundos – o visível e o invisível” (Edwin Markham).
“Poesia e um arranjo apaixonado das palavras, quer em verso, quer em prosa, contendo a exaltação, o esplendor, o ritmo e a beleza da vida.” (Richard Le Gaéienne).
“A busca para encontrar pensamentos definidos na poesia, pode, muitas vezes.ser totalmente infrutífera.” (R. H. Hutton).
“A antítese da poesia não e a prosa. É a ciência.” (Wordsworth).
“Grande poesia obtém sua força da vida.” (Jung).
“Os poetas do nosso século falam mais de si próprios do que aos outros e acham que tem o direito de ser profundos.”
Verso e poesia são de valor não porque são poesia, mas porque ajudam as pessoas a se lembrarem. Um bom poeta é como um bom jornalista, isto é, tem as mesmas tarefas: apresentar seu tema claramente, de maneira que as pessoas se lembrem do que foi dito, no mais limitado espaço possível[4].
DIFERENÇA ENTRE POESIA E HINO
Não se deve exigir que hinos sejam poesia, mas temos o direito de ter num hino, bons versos, com bom conteúdo de expressão Cristã sincera.
O hino deve ser diferenciado da poesia no sentido de que evite aquilo que e sutil. Não deve ser dúbio ou de difícil compreensão. A base do hino deve ser a da te hist6rica, e não a de mitos.
Nancy White Thomas mostra como os hinos elaboram ideias e realcem significado[5]:
Os comentários humanos sobre a verdade de Deus podem ser orações, sermões e hinos.
Os hinos prolongam as expressões humanas de suplicas, de louvor, as afirmações de fé, as aspirações e reflexões (Prof. A .J. B. Hutchings).
“O Senhor É meu Pastor” – é a afirmação do salmo. O restante do salmo é elaboração dessa ideia. É o desenvolvimento da imagem usada. A Bíblia, portanto, reconhece o valor da elaboração da ideia. Não é suficiente conhecer a verdade. Somos estimulados pela Palavra de Deus a “meditar” na lei de Deus de dia e de noite (Salmo 1:2. Josué 1:8). O sentido complete só virá através da reflexão. Os hinos fornecem esses meios para a contemplação da nossa fé.
A. Quais algumas das maneiras pelas quais os hinos elaboram as ideias?
1. Pela repetição da ideia, de maneiras diferentes.
2. Pela comparação da ideia com outras semelhantes.
3. Contrastando a ideia com outras ideias opostas – desde a diferença simples ata a oposição dramática.
4. Ilustrando-a ou fazendo uma aplicação dela.
5. Explorando a ideia através de perguntas e respostas.
6. Entrelaçando-a numa história ou drama.
7. Usando-a em linguagem simbólica – imagens ou metáforas adequadas para explica-Ia.
8. Examinando-a de um determinado ponto de vista ou ângulo, etc.
Exemplos:
1. Repetição com variações
“Não sei por que de Deus o amor a mim se revelou”. A revelação do amor de Deus é um mistério e uma realidade.
“Não sei porque” … “mas eu sei”
Este paradoxo é repetido entre cada estrofe e o coro, tocando em pontos doutrinários importantes, como a eleição, justificação, segunda vinda e vida futura.
2. Comparação
“Belo és, ó Cristo” ó formoso Cristo
A beleza de Cristo é enaltecida, quando comparada com as coisas mais belas da natureza e os anjos do céu, sendo que Cristo é mais belo que tudo.
3. Contraste
“Ó Deus, eterno ajudador” (O God our Help in Ages past)
Este hino mostra-nos a realidade da fragilidade e transitoriedade humanas – contrastadas com a eternidade e poder ilimitado de Deus.
4. Ilustração – aplicação
“Minha vida consagrada seja a ti, Senhor”
Nesse hino Frances Havergal elabora a ideia da mordomia da nossa vida. enumerando cada item, como as mãos, pés, voz, dinheiro, capacidade, vontade, amor, desejo, etc, os quais consagramos ao Senhor.
5. Pergunta e resposta
“Triste estás, cansado, aflito?”
A alma cansada e em desespero só encontra o descanso e a salvação eterna em Cristo Jesus.
“Sentinela vai-se a noite, que sinais me tens a dar?” (S.L. 73).
Chega o tempo do cumprimento das promessas da vinda de Cristo, e a Sentinela as anuncia ao caminheiro esperançoso.
6. Drama
“Jesus, estás à porta” (S.L. 161).
As personagens São: o narrador, Cristo, e nós os pecadores. O narrador descreve Cristo, com suas mãos transpassadas, batendo à porta e pedindo entrada: “Morri por vós, meus filhos, não me deixais entrar?” Ao que respondemos: “Senhor, agora abrimos o nosso coração: ó entra; e faze nele eterna habitação!”
7. Figuras simbólicas
“Nas tormentas desta vida”
Descreve o pecador soçobrando no mar agitado da vida, enquanto nós, os Cristãos, podemos guiá-los à salvação.
8. Ponto de vista
“Quando eu contemplo aquela cruz” (S.L. 119)
O autor vê, do seu ponto de vista, os valores da cruz, obtendo assim uma perspectiva verdadeira na relação com Cristo.
B. Os hinos realçam o significado. De que maneira?
O poeta e obrigado a economizar suas palavras. Ele também precisa usar descrição, narração, exposição e argumentação, como escritor de prosa, mas não pode usar muitas palavras – (apesar de estar elaborando e desenvolvendo ideias). Ele é forcado, então, a coordenar suas palavras com grande habilidade. Precisa escolher as palavras bem exatas, as mais pitorescas e de grande poder de associação e colocá-las no lugar próprio em relação às outras. O resultado deverá ser uma poesia compacta, que de maneira concreta focalize e intensifique o significado do assunto – de maneira breve, simples e direta. Na própria Bíblia estão os melhores exemplos de narração de acontecimentos históricos e das respostas poéticas a respeito dos mesmos. Vejamos, por exemplo, os capítulos 14 e 15 de Êxodo, com isto em mente. Ambos os capítulos são grande literatura; ambos são inspirados; ambos são a respeito do cruzamento do Mar Vermelho, mas o capítulo 14 é uma narração histórica e o 15, uma reação poética do fato. Examine cuidadosamente como o “Cântico de Moisés” realça o significado do evento histórico.
CONCLUSÃO
Quando um significado e assim realçado e é mais enfatizado ainda, ao ser cantado com uma melodia adequada, obtemos um instrumento de expressão e impressão de singular e inigualável valor – que se chama HINO.
A construção do hino e mais rígida do que a poesia comum, embora o seu autor use as mesmas formas métricas que o poeta, o hino é enquadrado numa certa disposição de acentos fracos e fortes, e esse padrão deve ser observado rigidamente para todas as estrofes, porque geralmente todo o hino é estrófico. Se usássemos a forma “durchkomponiert”, tão comum nos “lieder” alemães, talvez o poeta pudesse ter mais liberdade. Para o compositor não faria tanta diferença, porque ele partiria do texto existente, e poderia sem duvida se tornar até mais expressivo, mudando sua linha melódica e ritmos quando necessário, para que as acentuações fossem corretas e o canto se tornasse expressivo. Entretanto o estilo “durchkomponiert” em nada facilitaria o canto congregacional, e embora mais artístico, e menos pratico que o hino estrófico. Fruto do auge do romantismo, levado também pela emoção do texto, mesmo disposto estroficamente pelo poeta, o compositor se liberta da repetição rígida das estrofes, faz mudanças da melodia, do ritmo, usa modulações, e elabora no acompanhamento para criar as atmosferas especificas para as palavras de cada estrofe. É interessante de se notar que muitos hinos, geralmente “compostos”, mas “não escritos” pelos jovens de hoje, seguem o estilo “durchkomponiert”, libertando-se mais ou menos do rigor das estrofes, das acentuações e também das rimas.
Não ha dúvida que e uma árdua tarefa, a de se cantar duas ou mais estrofes, que dizem coisas que não são idênticas, com uma mesma música. Um exemplo típico deste contraste existente em um mesmo hino, que é preciso ser cantado com a MESMA música, e o hino “Cristo já ressuscitou”. A mesma frase musical e usada para cantar dois versos opostos:
“Cristo já ressuscitou. Aleluia” e “Sobre a cruz Jesus sofreu, Aleluia”
ou
“Mas agora VIVO esta, Aleluia” e “Ele a morte quis baixar, Aleluia”
Se o organista inteligente faz uso de uma dinâmica preparatória nos acordes que precedem estas frases, aumentando ou diminuindo o volume, de acordo com a lógica do texto, ele sem duvida fará com que o texto se tome vivo e expressivo. Se ele não prestar atenção na letra, e tocar tudo fortemente e triunfantemente, manterá apenas o teor geral do hino, sem delinear seus ricos contrastes, que dão vida e um significado mais profundo às palavras.
O hino é um canto, mas como poesia, ele pode as vezes ser inexpressivo, até que seja vitalizado pela música. A música e a poesia de um hino não precisam necessariamente ser compostas por duas pessoas distintas. Roger Quilter, por exemplo, Lutero e outros, foram tanto poetas como músicos.
Um hino deve fornecer prazer vocal intelectual, musical, etc., mas Nilo deve ser tilo abusivamente atraente, ao ponto de se tornar um empecilho para a devoção e o enlevo espiritual. Se Platão ensinava que os jovens precisam aprender textos para serem cantados para que se tornem “mais gentis, harmoniosos e rítmicos em suas vidas”, assim também nossos hinos devem ensinar a fé crista e ter um conteúdo ético que possa ser lembrado durante a vida, através dessa associação com a música.
A música não acrescenta algum elemento essencial que esteja faltando as palavras, nem aumenta o significado das palavras. Pelo contrario, são as palavras que acrescentam significado a música[6]. Quando palavras e músicas são combinadas, ambas perdem algo. O resultado é um comprometimento, UMA NOVA ENTIDADE, que não pode ser entendida unicamente em termos de texto ou de música. É impossível de se concordar, por exemplo, de como uma poesia deva ser lida, quanto ao seu exato fraseado e inflexão de voz. Ha muitas opções. Mas quando o texto é colocado em música, as acentuações, fraseados, inflexões, etc., são obrigadas àquelas da música. Não há opção. O texto é então proferido da maneira que a música o faz. Bom texto não justifica música pobre, nem boa música um texto fraco. Entretanto, palavras ou músicas “toleráveis”, podem ser o que existe, para uma determinada situação. De nada adianta ser “boa” – letra ou música se são irrelevantes[7].
“Um poeta escreve para agradar-se a si mesmo e satisfazer o seu impulso criativo. O autor de um hino preocupa-se em transmitir uma mensagem. o excesso de adjetivos jamais enriquece os versos de um hino. Linguagem clara, direta e objetiva, sim. Ele precisa escrever com clareza suficiente, para que uma congregação possa fazer duas coisas de uma só vez: compreender o significado das palavras e cantar a melodia. Os maiores hinos são obras primas de profunda simplicidade. Entretanto, muitas vezes em busca de simplicidade, o autor pode se tornar facilmente barato, vulgar, ou cheio de chavões corriqueiros.
O autor de hinos é limitado a um assunto cristão e, além disso, precisa estar submisso a formas métricas rijas. Com a melhor boa vontade do mundo, é quase impossível de se obter sempre, cesuras de frases musicais e de textos que coincidam, e todos os acentos certos, nas pulsações rítmicas em todos os versos de cada estrofe! O ideal é que o texto sempre se encaixasse na música como uma luva, tanto no fraseado, nas acentuações, como no espírito ou atmosfera. Muitas poesias boas, quando postas em música mostram esta fraqueza e irregularidade de acentos. Por isso muitos autores de hinos preferem escrever um texto para uma melodia já conhecida, para depois de escrito, providenciarem uma música própria para o novo hino.”[8]
A música de um hino não é primariamente uma produção musical.
“Ela deve ser uma serva de um texto, que por sua vez, deve ser o veículo de adoração e culto. Como um hino é culto e é experiência musical ao mesmo tempo, é obvio que somente um compositor que está interessado em ambos pode fazê-Io bem.”[9]
“Enquanto cantarmos hinos, seus textos e músicas precisam ser parceiros felizes – não importa quais formas, novas e criativas possam aparecer para eles no futuro.”[10]
Adam Fox disse que “hinos são poesia por coincidência, e que dizer se a poesia é boa ou ruim não responde a pergunta se um hino é bom ou ruim.”[11]
Rodgers e Hammerstein, famosos parceiros de shows musicais – libretista e musico, mostraram em pecas como “The Sound of Music” (A noviça rebelde) e “South Pacific”, principalmente na canção “Bali Hai”, como a música influencia o caráter do texto, e vice-versa. É um processo duplo, cada elemento mudado e afetando o outro. Somente aí haverá um verdadeiro casamento de letra e música.[12]
O editor da revista “The Hymn” calculou em 1958, que se escreve em media, seis a oito textos, para cada música de hinos! É mais fácil de escrever um texto bom do que uma boa música. Mediocridade revela-se mais prontamente na música. Quase sempre a música é escrita para o ‘texto, raramente o oposto, como no caso de FINLANDIA.[13]
Muitas vezes uma música tocante exalta e eleva uma poesia medíocre. Muitas vezes um bom texto não comunica porque sua música é imprópria. Uma música pode apelar a uma pessoa e não apelar a outra.[14] Mas Schoen descobriu que a música provoca um estado de animo acentuadamente uniforme na grande maioria dos ouvintes.[15]
A música tem um valor inconfundível no hino. Ela volta à mente com frequência, quando o texto já foi esquecido, e ajuda a memorizá-Io. Ela associa-se também com outras coisas que podem afetar nossos sentimentos e nos faz lembrar experiências e memórias antigas.14
O hino como poesia excita a emoção e o pensamento. Quando o hino é cantado, ele também une a mente ao coração.[16]
Provavelmente, o mais importante progresso na investigação científica da música, foi a descoberta de que a música é percebida através daquela parte do cérebro que recebe o estímulo das emoções, sensações e sentimentos, sem ser primeiro submetida aos centros do cérebro que envolvem a razão e a inteligência responsáveis pela compreensão do texto.[17]
Entre os muitos problemas que o compilador de um hinário tem de resolver, está o de escolher a música certa para a letra de cada hino. Há diversos textos que não tem música definida e que em cada hinário estão ligados a diferentes músicas. Alguns hinários incluem diversas opções, com duas ou até mais músicas, naturalmente levando-se em conta que serão usados por congregações bastante diferentes, desde as pequenas da roça, até as catedrais da grande cidade.
Há hinos, entretanto, que são só usados com a mesma música, sendo que texto e melodia são inseparáveis. Um desses hinos é o “Santo, Santo”, outro e “Ao Deus de Abraão Louvai”! Por que não se pensa em separar estes textos das melodias NICAEA e LEONI? Naturalmente são boas combinações de texto e música, e num bom “casamento”, não se justificaria uma troca.[18] Mas experimentemos cantar “Ó fronte ensanguentada” com a melodia. AURELIA, e “Da Igreja o fundamento” com a melodia PASSION CHORALE. Não é evidente que isto e um mau casamento?
Ó fronte ensanguentada
Em tanto opróbrio e dor
De espinhos coroada
Com ódio e com furor!
Tão gloriosa outrora,
Tão bela, tão viril,
Tão abatida agora,
Da afronta e escárnio viI.
Da Igreja, o fundamento
É Cristo, o Salvador;
Em seu poder descansa
E é forte em seu amor,
Em Cristo bem firmada
Segura sempre está
E sobre a rocha eterna.
Jamais se abalará.
Cada música, mesmo sem texto algum, tem a sua atmosfera adequada, que pode expressar bem o espírito da letra ou não. Ouçamos, por exemplo, o espírito que estas músicas pode transmitir, sem letra alguma:
CWM RHONDA – Vigor, poder, desafio
STILLE NACHT – Tranquilidade, doçura, paz
EIN’ FEST BURG – Audácia, coragem de ferro, confiança
Quando o “casamento” entre texto e música é perfeito, o hino torna-se, elemento para produzir um responso emocional diante das verdades religiosas. Agostinho foi sensibilizado pelo cantochão composto por Ambrósio em Milão, “Eu chorei”, disse ele, “diante da beleza dos hinos e cânticos, e fui fortemente tocado pelo mavioso som da sua igreja cantando.”[xix]
Um jovem sacerdote anglicano, num culto da catedral São Paulo, de Londres, ouviu um salmo cantado pelo coro de meninos falar ao seu coração: “Das profundezas clamo a ti, Senhor.” E este foi, na realidade, o inicio do grande reavivamento inglês liderado por João Wesley.[xx]
[1] William Osborne, Hymns for Today, The Hymn. Out. 1969, vol. 20. nº 4. pg. 115),
[2] W. Scott Westerman, The Essential Elements of a Good Hymn, The Hymn Jan. 1953, vol. 4 nº 1. pg. 25 e 26.
[3] Appraising 20th Century Hymn Tunes. The Hymn. Abril 1972. vol. 3. nº 2. pg. 37
[4] Michael Hewlett, Thoughts About Words. The Hymn. jul. 1969. vol. 20. pg. 90
[5] Nancy White Thomas. The Hymn. vol. 13. nº 1. Jan 1962. pg. 24,
[6] Frank B, Merryweather, Poetry and Hymns, The Hymn, out, 1954, vol.5, nº 4. Pg. 109 a 115),
[7] Greg Ampersand Mark, Words and Music In Public Worship, The Hymn. out. 1976. vol. 27, nº 4. pg. 110-111.
[8] Frederick Pratt Green, Hymn Writing Today, The Hymn. out. 1971. vol. 22. nº 4. pg. 118,
[9] Austin C. Lovelace. Tunes Alive, in 85, The Hymn. jan. 1972. vol. 23. nº 1. pg. 10,
[10] Frank B. Merrywesther. Poetry and Hymns. The Hymn. out. 1954. vol. 15. nº 4. pg. 115,
[11] George. Litch Knight. The Language of Hymnody, The Hymn. abr. 1957. vol. 8. nº 2. j:Jg38.
[12] Michael Hewtett. Thoughts About Words, The Hymn. jul. 1969. vol. 20. nº 3. pg. 90,
[13] George Litch Knight. Texts or Tunes, The Hymn. out. 1958. vol. 9. nº 4. pg. 100.
[14] Alfred B. Hass. Hymn Tunes and Emotions, The Hymn. jan. 1960. vol. II. nº 1. pg. 8.
[15] Max Schoen. Psychology of Music, New York: Rohald. 1940. pg. 69
[16] Ruth Ellis Messenger. Emotion Blending with Thought, The Hymn. abr. 1960. vol.II. nº 2.p~. 34.
[17] Dorothy Schullian e Max Schoen – Music and Medicine, New York: Henry Schumann. Inc..1948. pgs 270-271.
[18] George L. Knight. Setting on the Proper Tune, TheHymn. abr. 1956. vol.7. nº 2.
[xix] Confissões de Agostinho. 3 Livro IX
[xx] Alfred B. Hass. Hymn Tunes and Emotion, The Hymn. jan. 1960. vol. II. nº 1. pg. 8,